Maysa, a rainha da fossa



"Quem fala mais em Maysa, a boca ou os olhos?
Os olhos e a boca de Maysa se entendem.
 Os olhos dizem uma coisa e a boca de Maysa se condói, se contrai,
se contorce como a ostra viva em que se pingou uma gota de limão.
A boca de Maysa escanteia e os olhos de Maysa ficam sérios.
Meu Deus!
Como os olhos de Maysa podem ser sérios,
 e como a boca de Maysa pode ser amarga!
Boca da noite (mas de repente alvorece num sorriso infantil inefável)”
(Manuel Bandeira)

 
 
Maysa Figueira Monjardim, Maysa Matarazzo, ou simplesmente Maysa, nasceu no dia 06 de junho de 1936. Seu local de nascimento até hoje gera polêmicas. Algumas fontes dizem que ela teria nascido em São Paulo. Outras, no entanto, afirmam que foi no Rio de Janeiro. O local de nascimento de Maysa, porém, não é o mais importante. O que importa, de fato, é que ela gravou o seu nome na história da MPB como sendo uma das mais criativas e competentes cantoras e compositoras de nosso país.
 
Absolutamente polêmica, Maysa era muitíssimo temperamental e inconstante. Oscilava entre as tempestades e as calmarías. Era forte como uma rocha e frágil como a mais fina porcelana. Brigava, xingava, gritava e virava a mesa sem fazer cerimônias. Falava de amor como poucos. Se tornou a rainha da fossa.
 
Nasceu numa tradicional família do estado do Espírito Santo. Em 1947 a família transferiu-se para Bauru, no interior paulista. Logo depois, mudaram-se novamente para a capital. Mesmo fixada em São Paulo, a família ainda mudaria de endereço várias vezes. Maysa era neta do barão de Monjardim, que foi presidente da província do Espírito Santo por cinco vezes. 
 
 
 
Casou-se aos dezessete anos com o empresário André Matarazzo, dezessete anos mais velho, que era amigo de seus pais, e membro do ramo ítalo-brasileiro da família Matarazzo, de cuja união nasceu Jayme Monjardim Matarazzo, diretor de cinema e telenovelas na Redde Globo.
 
Desquitou-se do marido em 1957, pois ele se opôs à sua carreira musical. Maysa teve vários relacionamentos amorosos, entre eles, com o compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário espanhol Miguel Azanza, o ator Carlos Alberto, o maestro Julio Medaglia, entre vários outros. Ao assumir o relacionamento com Miguel Azanza em 1963, Maysa estabeleceu residência na Espanha onde morou durante anos com o marido e o filho. Só retornou definitivamente ao Brasil em 1969. Na década de 70, Maysa se aventuraria pelo mundo das telenovelas e do teatro participando de produções como O Cafona, Bel-Ami e o espetáculo Woyzeck de George Büchner.
 
Maysa compôs, ao longo da carreira, 30 canções, e isso numa época em que havia poucas mulheres nessa atividade. Maysa interpretava de maneira muito singular, personalista, com toda a voz, sentimento e expressão, sendo um dos maiores nomes da canção intimista. Um canto gutural, ensejando momentos de solidão e de grande expressão afetiva.
 
 
 

Um grave acidente parou a Ponte Rio Niterói no dia 22 de Janeiro de 1977, por volta das 5 horas da tarde. A Brasília azul que a cantora dirigia ficou completamente destruída. Maysa se calava para sempre. Adormecia o mais temido furacão de nossa música popular brasileira. Morreu aos 40 anos de  de idade, a caminho da casa de praia em Maricá, onde vivia isolada desde 1972. Morreu buscando uma paz nunca alcançada. A morte, porém, não conseguiu esconder as marcas deixadas por este grande furacão. Maysa continua viva na memória do povo brasileiro. Se eternizou. Virou mito.
 
 
"Hoje é novembro de 1976, sou viúva, tenho 40 anos"
(Maysa, em uma de suas últimas anotações)
 
 
 

0 comentários: