Dona Ivone Lara, uma grande dama do Samba

"Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho
Mas eu vim de lá pequenininho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho"


Yvonne Lara da Costa, mais conhecida como Dona Ivone Lara, nasceu no Rio de Janeiro em 13 de abril de 1921.

O samba é mesmo um rítmo privilégiado. Dele surgiram grandes damas da nossa música popular. Grandes rainhas surgiram nas rodas das Escolas de Samba cariocas, e Dona Ivone Lara, às vésperas de completar 91 anos de idade, é uma dessas rainhas.

Formada em Enfermagem, com especialização em Terapia Ocupacional, foi assistente social até se aposentar em 1977. Nesta função trabalhou em hospitais psiquátricos, onde conheceu a dra. Nise da Silveira
.
Com a morte do pai aos três anos de idade, e da mãe aos doze, foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos e recebeu elogios do marido desta, o maestro Villa-Lobos.

Nos anos 40 mudou-se para a Mangueira onde teve a oportunidade de conviver com muitos sambistas.

Nessa mesma época freqüentou a Escola de Samba Prazer da Serrinha e compôs alguns sambas, como o famoso "Nasci para sofrer". O amor pela escola foi além do samba e aos 25 anos casou-se com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da escola.

Com o fim da Escola de Samba Prazer da Serrinha, juntou-se a Império Serrano, escola fundada pelo primo, Mestre Fuleiro. Compôs os sambas-enredos "Não Me Perguntes" (com Fuleiro) e em 1965 "Os Cinco Bailes da Corte ou Os Cinco Bailes da História do Rio" (com Silas de Oliveira e Bacalhau), nesse ano a escola se classificou em quarto lugar no desfile.

A sambista tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores e depois de um tempo se tornou a madrinha da ala. A partir de 1968 passou a integrar a Ala das Baianas. Dona Ivone foi a primeira mulher a compor samba enredo.

Participou das rodas de samba do Teatro Opinião nos anos 60. Figura constante passou a ser chamada de "Dona" Ivone Lara, tratamento respeitoso e reverencial que lhe foi conferido pelo radialista Adelzon Alves. No início dos anos 70, após a morte de Silas de Oliveira, passou a compor com Délcio Carvalho, tornando-se famosa no mundo do samba. A partir daí, passou a se apresentar em programas como o do Chacrinha, na TV Globo, e o de Adelzon Alves, na Rádio Globo. O ano de 1970 foi importante para sua carreira de intérprete e compositora, pois gravou o seu primeiro disco pela gravadora Copacabana "Sambão 70", produzido por Sargenteli e Adelson Alves.

Em 1974, veio a verdadeira consolidação da carreira de Dona Ivone Lara. Clara Nunes, o nome mais significativo do samba, resolve apresentá - la para o grande público e grava "Alvorecer", uma parceria sua com Délcio de Carvalho. A música foi escolhida para dar  título ao disco da artista naquele ano. "Clara Nunes Alvorecer" marca em definitivo a carreira de Dona Ivone Lara como compositora de sucesso. Depois de Clara Nunes, outros artistas passaram a gravar músicas de Dona Ivone.

“Sonho meu”, foi gravada por Gal Costa e Maria Bethânia. Além de ganhar o prêmio Sharp de "Melhor Música" do ano de 1978, gravação rendeu o reconhecimento público. Depois disso foi convidada a gravar seu primeiro LP em 1979 pela Odeon, "Samba, Minha Verdade, Minha Raíz" e, no ano seguinte, "Sorriso e Criança".

Em seguida, pela Warner, lançou “Sorriso Negro”. Álbum que cantou em dueto com Maria Bethânia na faixa "A sereia Guiomar" e com Jorge Ben a música "Sorriso negro". Em 85, gravou pela Som Livre o LP "Ivone Lara" com "Se o Caminho é Meu".

Seu repertório é composto na maioria de sambas românticos, dolentes ou de inspiração em suas raízes africanas. Em 1988, o álbum duplo "Há sempre um nome de mulher", produzido por Ricardo Cravo Albin, vendeu 600 mil cópias apenas nas agências do Banco do Brasil.

Em comemoração aos 50 anos de vida artística dedicada ao samba, foi lançado o CD “Bodas de Ouro”, com a participação de vários convidados, entre eles: Gilberto Gil, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Almir Guineto. No ano seguinte, em 1998, foi homenageada pelos franceses e encerrou o Festival Latino, promovido pela EuroDisney, na França.

No ano de 1999, foi homenageada com o troféu "Eletrobras de Música Popular Brasileira". Em outubro do mesmo ano foi agraciada com a medalha Pedro Ernesto, em sessão solene no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pelos serviços prestados à música e à cultura.

Suas canções foram interpretadas por grandes artistas, como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Clementina de Jesus, Gal Costa, Maria Bethania, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Beth Carvalho e Eliseth Cardoso, dentr outros. Algumas de suas composições entraram para a história do samba. Como “Acreditar”, “Alguém me avisou”, “Enredo do meu samba”, “Tendência” e “Mais quem disse que eu te esqueço”.
 
Sua carreira lá fora também foi escrita por sucessos. Participou, entre outros, do Festival de Montreux na Suíça, do Festival Viva Afro Brasil em Tubingen na Alemanha, em 2000, do Brazilfest em Nova York e do Benguela em Angola, em 2001.


Em 2002 foi a vencedora do Prêmio Shell de MPB. Em 2003 interpretou "Razão de nostalgia" com Bruno Castro no "Festival Fábrica do Samba", no Maracanazinho, classificando a composição em 4º lugar. Em 2006, ao completar 85 anos, teve parte de sua trajetória mostrada em documentário registrado em show ao vivo no Teatro Municipal de Niterói. O documentário de Felipe Moura Brasil, Carlos Andreazza e Rafael Simi foi lançado juntamente com um CD, no qual vários artistas da MPB lhe prestaram homenagem interpretando parte de sua obra.

Em 2000, participou da gravação do disco "Esquina carioca", ao lado de amigos como Nelson Sargento, Luis Carlos da Vila, Walter Alfaiate e Beth Carvalho. Neste mesmo ano, participou do disco "Samba.com", de Dorina, no qual interpretou, em dueto com a jovem cantora, "Se o caminho é meu" (Paulinho Mocidade e Berinjela).

Ao lado de Renato Braz, Wilson Moreira, Elton Medeiros, Cristina Buarque, Monarco, Velha Guarda da Portela, Elza Soares, Teresa Cristina, Mart´nália, Nilze Carvalho, Seu Jorge e Walter Alfaiate, participou do CD "Um ser de luz - saudação à Clara Nunes".

Em 2004 foi uma das 53 atrações especiais da roda de samba que reuniu três gerações de bambas do samba carioca, entre os quais destacaram-se Nelson Sargento, Nei Lopes, Wilson Moreira, Almir Guineto, Luis Carlos da Vila, Nilze Carvalho e Luciane Menezes.
 
Foi a convidada de Beth Carvalho para a gravação do primeiro DVD da cantora, "Beth Carvalho - a madrinha do samba", no qual interpretaram em dueto "Mas quem disse que eu te esqueço".

Em 2010, Dona Ivone Lara foi a grande homenageada do Prêmio de Música Brasileira.

Dona Ivone Lara, a rainha do Império Serrano, uma das grandes damas do Samba e da MPB, que aos 91 anos de idade continua compondo e realizando shows por todo o país e também no exterior. Essa merece todo o respeito.


 

0 comentários: