Mercedes Sosa, a eterna Voz Da América Latina


Haydée Mercedes Sosa nasceu em San Miguel de Tucumán no dia 09 de julho de 1935. Com fortes raízes na música folclórica argentina, fundou, junto a outros artistas latino - americanoso Movimiento Nuva Canción, cujas músicas em protesto à Ditadura Militar, assolaram a América do Sul. Apelidada pelos fãns de "La Negra", por seus longos e lisos cabelos negros, Mercedes ficou conhecida como a voz dos que "não tinham voz."



Nascida no dia da Declaração da Independência, e na mesma cidade onde foi assinada, Mercedes sempre foi patriota. Afirmou inúmeras vezes que "pátria só temos uma". Foi também uma árdua defensora do Pan-americanismo e da integração dos povos da América Latina. Sua carreira se iniciou em 1950, aos quinze anos de idade, quando Sosa venceu uma competição de canto organizada por uma emissora de rádio de sua cidade natal e ganhou um contrato para cantar por dois meses.

Mercedes Sosa foi uma das artistas argentinas mais populares das últimas quatro décadas. Dona de uma das vozes mais representativas do cancionário popular argentino e da América Latina e gravou mais de 40 álbuns.

A cantora gravou diversos duetos com artistas brasileiros, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Milton Nascimento, Fagner e Beth Carvalho. Outras estrelas internacionais com as quais dividiu os palcos foram Luciano Pavarotti, Sting, Lucio Dalla, Nana Mouskouri, Tania Libertad, Joan Baez, Andrea Bocelli, Alfredo Kraus, Konstantin Wecker, Silvio Rodríguez, Pablo Milanés, Luz Casal, Ismael Serrano e Shakira.

Sosa foi herdeira e símbolo de um movimento de música folclórica com forte compromisso político que teve como grande nome Atahualpa Yupanqui, que morreu em Paris em 1992. Sosa, que sempre foi ativa entre os movimentos peronistas de esquerda, fez oposição ao presidente Carlos Menem e manifestou apoio às eleições de Néstor e Cristina Kirchner.

Na década de 1960, Mercedes participou do Movimento do Novo Cancioneiro, surgido em Mendoza e centrado na música popular latino-americana, com ênfase no componente social. Além de obter sucesso na Argentina, a artista ganhou palcos pelas Américas e também na Europa. A temática social e a ligação com a esquerda lhe renderam também dissabores.

O movimento liderado pela cantora foi dissolvido em 1973, por um golpe militar patrocinado pela CIA, que terminou com a morte do presidente do Chile, Salvador Allende.

Como suas canções exaltavam a democracía e os direitos humanos, Mercedes passou a ser vista como uma grande ameaça pelo poderoso regime militar sul americano.

Em 1975 a cantora teve seu show invadido pelos militares. Foi presa juntamente com pessoas da platéia, e depois de diversas ameaças de morte, deixou a Argentina e partiu para o exílio em 1979.


Reunindo a política e a musicalidade dos rítmos de seu continente latino- americano, muitas vezes foi comparada a Joan Baez.

Permaneceu no exílio por três anos e, em 1982, fez um triunfante show de retorno. No mesmo ano gravou quatro discos, com destaque a "Como Un Pájaro Libre" e "Mercedes Sosa en Argentina".

A cantora já se apresentou nas principais cidades do mundo e, em 2000, foi a grande vencedora na primeira premiação latina do Grammy, por seu disco "Misa Criolla", gravado em agradecimento à Deus pela recuperação de um grave problema cardíaco.

Em sua apaixonada busca artística, Sosa incursionou no rock argentino, ao lado de músicos populares como Charly García, Fito Páez e León Gieco.

Conhecida mundialmente como A Voz Da América Latina, Mercedes Sosa morreu aos 74 anos de idade em 4 de outubro de 2009, às 5h15min (horário local), em Buenos Aires. Ela foi internada no dia 18 de setembro na Clínica de la Trinidad, no bairro de Palermo, por causa de um problema renal. Seu quadro piorou a partir do momento em que teve complicações hepáticas e pulmonares. Em seus últimos dias, foi mantida sedada, respirando com a ajuda de aparelhos. Seu corpo foi velado no Congresso Nacional, em Buenos Aires, e cremado no cemitério da Chacarita no dia 5 de outubro de 2009. Uma parte de suas cinzas foi espalhada em sua província natal, Tucumán. A outra foi colocada em Mendoza, província pela qual havia declarado sentir um grande amor. O restante permaneceu na capital argentina, cidade onde morava há décadas.

A cantora havia trabalhado intensamente até poucas semanas antes de sua morte. Em 2008, havia dito que continuaria cantando "até os últimos dias", como uma cigarra.  Antes de todos os jogos de futebol da sétima rodada do Torneio Apertura 2009 foi prestado um minuto de silêncio em homenagem à cantora. A presidente argentina Cristina Kirchner declarou luto oficial de três dias pela morte de Sosa, e decidiu antecipar o retorno de uma viagem à Patagônia para comparecer ao velório da cantora. Sua morte também foi lamentada pelo chefe de estado venezuelano Hugo Chávez, que declarou que Sosa lhe "iluminou a vida", e por cantores como Shakira, Daniela Mercury, Maria Rita, Beth Carvalho, Gal Costa, Milton Nascimento, Fagner e Wagner Tiso, dentre outros. Os governos do Equador Chile e Brasil também demonstraram pesar em notas divulgadas à imprensa.



O Ministério da Cultura do Brasil veiculou artigo publicado pelo Jornal O Globo em 5 de outubro de 2009. Vale a pena transcrever trechos deste apaixonado depoimento sobre a maior cantora da América Latina:
"Habitualmente de costas para a música de “nuestros hermanos” latino-americanos, o Brasil começou a despertar para a riqueza da voz de Mercedes Sosa em 1976, após um dueto da cantora argentina com Milton Nascimento. A faixa “Volver a los 17″, da compositora chilena Violeta Parra - de quem Mercedes foi uma das principais intérpretes -, virou um dos maiores destaques do hoje clássico álbum “Geraes”. A partir daí, a barreira da língua não mais impediu que brasileiros se apaixonassem pelo marcante timbre de contralto de Mercedes Sosa e por seu repertório, que incluía desde canções folclóricas a músicas de conteúdo político e social.Os discos de Mercedes passaram a ser lançados regularmente no Brasil, e a cantora gravou novos encontros com artistas da MPB, como Fagner e Chico Buarque. Em outubro do ano passado, aproveitando uma visita ao Rio para receber a ordem do mérito cultural, em cerimônia no teatro Municipal, Mercedes gravou com Caetano Veloso uma faixa que fez parte do disco de duetos dela, lançado este ano, com vários convidados, incluindo a colombiana Shakira, o uruguaio Jorge Drexler e a mexicana Julieta Venegas. (...)Independentemente das posições políticas, Mercedes merece ser ouvida por sua grande voz e seu repertório, em discos como “El grito de la tierra”, “Homenaje a Violeta Parra”, “Cantada sudamericana”, “Interpreta Atahualpa Yupanqui”, “Corazón americano” (com Milton Nascimento e León Gieco) e “Alta fidelidad” (com Charly García). Seu último disco, “Cantora, vol. 1″, teve três indicações ao Grammy Latino deste ano - que será anunciado no mês de novembro.(...)A morte de Mercedes Sosa entristeceu não somente seus amigos e familiares, mas também políticos e intelectuais, além de parceiros musicais.(...)A presidente Cristina Kirchner, que nos últimos anos organizou shows de Mercedes na Casa Rosada, decidiu antecipar seu retorno da província de Santa Cruz, onde costuma descansar com sua família, para participar do velório. A presidente, que também convocou a cantora para o ato de comemoração de sua posse, em dezembro de 2007, decretou luto nacional pela morte de Mercedes Sosa."
Também o site do Memorial da América Latina prestou sua homenagem à cantora:
"A América Latina inteira reverencia a cantora Mercedes Sosa (1935 – 2009), falecida na madrugada desse domingo, 4 de outubro. Suas cinzas serão repartidas entre Tucumán, Mendonza e Buenos Aires. O Memorial se junta à corrente que homenageia a grande artista argentina, que com seu talento corajoso e voz tonitruante catalisou os ventos de mudança dos anos 60, 70 e 80 e manteve a bandeira da utopia até o fim. Simbolicamente, suas cinzas também ficarão eternamente depositadas no Memorial da América Latina. O Memorial já estava programando - e agora vai apressá-la - uma grande homenagem à cantora, com a participação de intérpretes brasileiras."
Assim como no Brasil, são inúmeras as manifestações de pesar e se multiplicam homenagens, em toda a América Latina, à "Negra", Mercedes Sosa. Tal como Eva Perón ou como Getúlio Vargas ela também "saiu da vida para entrar na história", tornou-se um mito. Agora Mercedes Sosa é imortal!


2 comentários:

  1. Parabéns, Caio! Adorei ler a sua postagem sobre Mercedes.Sou sua fã desde...nem posso dizer! Tive a oportunidade de assistir a um show dela na abertura do Festival de Canção em Itabira, no ano de 1982...foi incrível!Doce lembrança. Salve Mercedes,Violeta Parra, Elis e outras maravilhosas intérpretes e compositoras latinas...abraços de,Gláucia.

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