Semana Clara Nunes no Visão Geral

"Clara,
Abre o pano do passado,
Tira a preta do cerrado,
Põe rei congo no congá.
Anda, canta um samba verdadeiro,
Faz o que mandou o mineiro,
Oh! mineira."


A mineira guerreira, menina pobre do interior das Minas Gerais, que enfrentou uma série de obstáculos, sem jamáis desistir do seu sonho encantado de se tornar uma grande cantora, estaría completando 70 anos de vida no dia 12 próximo.

Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, mais conhecida como Clara Nunes, sobrenome que adotara de sua mãe, Dona Amélia Nunes, lutou e venceu. Tornou- se uma das mais importantes artistas brasileiras de todos os tempos. Teve um grande reconhecimento nacional e internacional. Quebrou o tabú de que mulher não vendia discos. Abriu o caminho fonográfico para uma leva de grandes cantoras que surgiram ou se firmaram artisticamente nos anos 70, tais como Alcione, Beth Carvalho, Simone e Joanna, dentre tantas outras. Lançou compositores, como Martinho da Vila, Dona Ivone Lara e os irmãos Gisa e João Nogueira. Rompeu preceitos e derrubou preconceitos. Foi místca. Foi uma grande explosão de religiosidade e amor à Deus sobre todas as coisas. Uniu amor e poesia ao casar- se com o compositor Paulo César Pinheiro, seu grande companheiro de vida. Tornou- se inesquecível para o público por seu sorrizo fácil e faceiro. É considerada, ainda hoje, a melhor intérprete de samba, gênero musical que estava relegado a segundo plano e, que Clara resgatou com muita classe. É, merecidamente, pela voz e conjunto da obra, a maior cantora já nascida no Brasil até os dias de hoje.

"Samba que samba no bole que bole,
Oi, morena do balaio mole,
Se embala do som dos tantãs.
Quebra no balacochê do cavaco
E rebola no balacubaco;
Se embola dos balagandãs.
Mexe no meio que eu sambo do lado.
Vem naquele bamboleado
Que eu também sou bam, bam, bam."



Clarinha foi luz. Foi amor e esperança nos escuros dias ditatoriáis. Lutou sem medo. Enfrentou governos e cantou muito do que era proibido. Driblou a censura e lançou muitas músicas de protesto, cujas mensagens, muitas vezes, através da inteligência de compositores como Chico Buarque, e de seu jeito inocente de boa moça, não eram percebidas pelos ditadores. Ditou regras. Ensinou a uma geração de mulheres sobre o que era ser feminista sem deixar de ser feminina. Foi à luta desde cedo e fazia questão de defender o trabalho feminino. Dizia que mulher não devería, jamáis, depender financeiramente do marido. Lançou moda com seu visual, sempre elegante e, muitas vezes, fora de todos os padrões da época. Foi uma mulher à frente do seu tempo. Clara foi tudo, foi emoção e verdade à flor da pele. Foi, de fato, um ser de luz.

Clara Nunes sempre afirmara ter nascido em 12 de agosto de 1943, diminuía um ano em sua idade. Coisas de mulher vaidosa, que sempre fora. Seu verdadeiro ano de nascimento, 1942, foi um dos segredos mais bem guardados da MPB, e só fora revelado 25 anos após sua prematura morte, causada por um Choque Anafilático sofrido durante uma cirurgía de varizes. Clarinha morreu no dia 02 de abril de 1983, após 28 dias em coma profundo na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro.

Clara Nunes virou uma linda estrela de brilho eterno. Assim como Getúlio Vargas, Lennon, Elvis Presley, Evita Perón e Elis Regina, saíu da vida para entrar na história. Se tornou um mito. Clara Nunes é imortal.

"Vai, cai no samba cai
E o samba vai até de manhã.
Vai cai no samba cai
E o samba vai até de manhã.
Ô saravá mineira guerreira
Que é filha de Ogum com Iansã."


Até o dia 12 de agosto, Clara Nunes estará presente no Visão Geral. Terça - feira, Clara na visão dos amigos. Não percam!

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