João Bosco, um caldeirão musical na MPB

"A esperança dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
tem que continuar"
(O Bêbado e a Equilibrista - João Bosco e Aldir Blanc - in Elis Regina Essa Mulher de 1979)
 
 
Um dos mais talentosos artistas da Musica Popular Brasileira chega aos 40 anos de carreira mais atual do que nunca. O inoxidável João Bosco é a prova de que o tempo é, muitas vezes, um grande aliado à criatividade artística.
 
Mineiro de Ponte Nova, nasceu em 13 de julho de 1946. Começou a tocar violão aos 12 anos, incentivado pelos muitos músicos de sua família, em Minas Gerais. Anos mais tarde vai para a faculdade de Engenharia Metalúrgica em Ouro Preto e sem abandonar os estudos, dedica-se à música, atraído principalmente pelo jazz, bossa nova e tropicalismo.
 
Um de seus primeiros parceiros foi Vinicius de Moraes, que o encorajou a ir para o Rio de Janeiro. Algumas músicas da dupla são "Rosa dos Ventos", "Samba do Pouso" e "O Mergulhador". Em 1971 João Bosco conhece aquele que seria seu principal e mais conhecido parceiro, o letrista Aldir Blanc, com quem faria uma série de pérolas de nossa música popular, tais como "Bala com Bala", "De Frente pro Crime", "Kid Cavaquinho", "Caça à Raposa", "Falso Brilhante", "O Rancho da Goiabada", dentre muitos outros.
 
Após concluir seus estudos universitários radica - se no Rio de Janeiro. Em 1972 grava sua primeira música, "Agnus Sei", parceria com Aldir.  Neste mesmo período João Bosco conhece a cantora Elis Regina, que passaría a ser a principal intérprete de sua obra junto a Aldir Blanc. Elis chegou a afirmar em várias ocasiões que João e Aldir eram seus compositores favoritos.
 
A mistura mineiro/carioca de João Bosco e Aldir Blanc foi, com certeza, uma das mais bem sucedidas parcerias da MPB. O engenheiro João e o Psiquiatra Aldir formaram uma dupla imbatível de repórteres de uma época.
 
Nos anos 80 e 90, depois de encerrar sua parceria com Aldir Blanc, passa a atuar mais freqüentemente como cantor, e encontra outros parceiros como Capinam ("Papel Machê", outro grande sucesso), Waly Salomão e Antônio Cícero ("Holofotes"), além do filho poeta, Francisco Bosco, com quem compôs as faixas do disco "As Mil e Uma Aldeias". Em 1998 compôs a trilha para o balé "Benguelê", do Grupo Corpo, apresentado no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e em festivais internacionais.
 
Depois de um intervalo de quase cinco anos, João Bosco lança, em 2003, o inédito "Malabaristas do sinal vermelho”. No álbum, o artista provou ser capaz de atualizar a temática social, sempre presente na sua obra, sem esquecer seu jeito de fazer música. O trabalho, outra parceria com o filho Francisco Bosco, foi bem acolhido pela crítica e até recebeu uma indicação ao Grammy de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.
 
Além de Elis Regina, João Bosco teve músicas gravadas pelos maiores intérpretes de nossa canção. Nesta lista figuram nomes como os de Clara Nunes, MPB 4, Nana Caymmi, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Ivan Lins e Daniela Mercury, dentre outros.
 
De suas composições, as que mais obtiveram sucesso são as gravações de "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" e "O Bêbado e a Equilibrista", ambas na voz de Elis Regina; "Nação", na voz de Clara Nunes (música esta que deu nome ao último disco gravado pela cantora) e "Papél Machê", na voz do próprio João.

O Prêmio da Música Brasileira, que a cada ano homenageia um grande nome da MPB, em sua 23ª Edição, realizada em 2012, rendeu tributo a este grande ícone de nossa canção. 
 
João Bosco, 66 anos de vida, 40 de música, um caldeirão mágico de música e poesía, um repórter de seu tempo, que foi o ontem, que é o hoje e certemente será o amanhã. Vida longa ao compositor e cantor.
 

(Elis Regina canta "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá", em 1974)
 
 (Elis Regina canta "O Bêbado e a Equilibrista", em 1979)
 
 (Clara Nunes canta "Nação", em 1982)
 
 (João Bosco canta "Papél Machê", em 2008)

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