Cristo Ressuscitou: Aleluia!

 SUA SANTIDADE BARTOLOMEU I
Pela Graça de Deus,
Arcebispo de Constantinopla - Nova Roma
e Patriarca Ecumênico da Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa







A todos os Fiéis da Igreja:
Graça, misericórdia, e paz de Cristo, o Salvador Ressurrecto em Glória
Amados irmãos e irmãs, caros filhos no Senhor,
— CRISTO RESSUSCITOU!


Alegre e radiante nasceu uma vez mais o dia da Santa Páscoa, dispensando alegrias, consolos, regozijos e a esperança de vida para todos os fiéis, a despeito da pesada atmosfera que prevalece em nosso mundo, causada por uma crise multi dimensional com todas as suas conhecidas e dolorosas conseqüências para nossa vida cotidiana.
Cristo ressuscitou do túmulo, o Deus-Homem, e a humanidade ergueu-se com Ele! A tirania da morte agora pertence ao passado. O desespero perante o cativeiro no mundo dos mortos está irrevogavelmente destruído. O Uno e Poderoso Vivificante, através de sua Encarnação, voluntariamente assumiu a miséria de nossa natureza e tudo que ela traz, isto é, a morte, e assim «trouxe morte ao Hades pelo relâmpago de Sua Divindade», concedendo-nos a vida – e «vida em abundância». (Jo 10, 10)
Esta abundância de vida, que nos foi concedida pelo Senhor Ressuscitado é incessantemente caluniada e atacada pelo demônio – de fato, tais ações são a origem do seu nome – embora ele esteja agora enfraquecido, completamente sem poder e inteiramente ridículo. O demônio calunia a Vida através da húbris que ainda prevalece no mundo contra Deus, a humanidade e a criação. O demônio ataca a Vida através da tendência ao pecado que existe em nós como «ferrugem velha», usando-a para enredar-nos, seja em algum pecado tangível ou em alguma fé ilusória. A húbris é produto daquela «ferrugem», e ambas compõem a sinistra dupla responsável pela perturbação dos relacionamentos conosco mesmo, com os outros, assim como com Deus e toda a Criação. Igualmente, é imperativo que purifiquemo-nos desta ferrugem com grande atenção e cuidado, para que brilhe intensamente em nossa mente, alma e corpo, a luz vivificadora do Cristo Ressuscitado, dispersando as trevas da húbris e vertendo a abundância da vida para todo o mundo.
Isto não pode ser alcançado através da filosofia, da ciência, da tecnologia, da arte ou de qualquer ideologia; só pode ser alcançado através da fé na Paixão, Crucifixão, Sepultamento, Descida ao mundo dos mortos e Ressurreição dentre os adormecidos do Deus-Homem Jesus Cristo; fé esta, expressa em uma vida imersa nos Mistérios da Igreja, assim como através de uma laboriosa e sistemática luta espiritual. A Igreja, sendo o Corpo de Cristo, vivencia incessantemente e através dos tempos o milagre da Ressurreição. Através dos sagrados Mistérios, de sua Teologia e de seus ensinos práticos, ela nos oferece a possibilidade de participar neste milagre, de compartilharmos da vitória sobre a morte, de nos tornarmos filhos moldados pela luz da Ressurreição e verdadeiramente «coparticipantes da natureza divina» (2 Pd 1, 4), assim como na vida de cada santo do passado e do presente. As ervas espinhosas das paixões crescendo nas profundezas de nosso coração, poluído pela ferrugem do «homem velho» (Ef 4,22) devem ser definitivamente transformadas o quanto antes em buquês de virtudes, santidade e correção em Cristo, através de Cristo e por amor de Cristo e de suas imagens vivas que nos cercam – isto é, os demais seres humanos.
Assim sendo, o santo hinógrafo oportunamente canta: «Vistamos o manto de justiça, que é mais branco que a neve, e rejubilemos hoje no dia da Páscoa; pois Cristo, o Sol de Justiça que se ergue dos mortos, derramou sobre nós a luz da incorrupção».  A veste branca de justiça nos foi dada simbolicamente no dia do nosso Batismo; e nós somos convidados a mantê-la constantemente limpa através do contínuo arrependimento, controle dos nossos desejos, paciência diante das dores da vida, e incansável esforço no cumprimento dos mandamentos de Deus, e especialmente no mandamento supremo do amor. Deste modo, seremos capazes de participar no auto-esvaziamento da Cruz do Deus-Homem e, igualmente, na alegria Pascal, na luz radiante e ditosa salvação que entrarão em nossa vida.
Escrevemos-vos esta carta desde o Fanar, onde experienciamos o sofrimento da Sexta-Feira Santa e a luz da Ressurreição, e expressamos-vos a afeição da Igreja Mãe, de todo o coração desejando a todos o dom salvífico e a bênção Pascal do Senhor da Vida, que ressuscitou dos mortos.

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