Elis Regina, 70 anos


"Eu já estou com o pé nessa estrada

Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol"




Baixinha, miúda e sem papas na língua. Assim era Elis Regina Carvalho Costa, a gaúchinha que deixou os programas da Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, sua cidade natal, para no Rio de Janeiro, se tornar uma das maiores e mais importantes cantoras brasileiras de todos os tempos.


Uma vida e uma carreira tão intensas deixaram uma marca indestrutível na memória cultural brasileira. Elis era polêmica. Tinha muitos desafetos. Brigou com muita gente, como por exemplo Virgínia Tapajós, esposa do compositor Maurício Tapajós, Maysa, Beth Carvalho, e chegou a alfinetar também a cantora Alcione. Seu maior desafeto, no entanto, era a baiana Maria Bethânia. Elis chegou a chamar um Padre para benzer o palco do Canecão antes de se apresentar, pois, Bethânia havia feito uma temporada no local antes dela.

As pessoas que conseguiram conhecer a Elis amiga e amável, só guardam boas lembranças da companheira, mãe e dona de casa maravilhosa que sempre fora. Até mesmo com os amigos ela tinha suas rusgas vez ou outra. Cauby Peixoto lembra que uma das poucas pessoas que conseguiram conviver sem nunca ter tido um problema com a "difícil" Elis Regina, foi a cantora Clara Nunes. Além de Clara, para quem Elis dedicou o disco "Essa Mulher", de 1979, nutria uma relação muito próxima com Rita Lee, Milton Nascimento, Renato Teixeira, Paulo César Pinheiro, João Bosco e Aldir Blanc, dentre outros.


Nos últimos anos de vida, Elis levava consigo três fotos, que colocava no espelho de seu camarim. Nas fotos três amigos: Milton Nascimento, Rita Lee e Clara Nunes.

Por seus erros, por se descontrolar, por se desentender com os outros e consigo própria, Elis descobriu ao longo de sua vida o direito de mudar de ideia. Tinha a força dos obstinados. Rompeu com a prudência e se atirou em seus desejos. Era absurdamente competitiva com suas colegas de profissão, e sempre fez questão de se mostrar superior a todas elas.

Fez e disse o que queria. Superou rótulos, acusações e cobranças. Confundiu, anarquizou, gritou e esperneou. Não levou desaforo para casa. Nervosa e doce pessoa, difícil de agarrar, de não dar o braço a torcer. Elis mostrou para o público a alma delicada  e o universo sutil de um artista. Uma dose forte e lenta. Oito ou oitenta.



Para seus amigos e fãs, Elis era marca registrada da convicção, coragem e humanismo à flor da pele. Elis trazia o coração à boca, evidenciando sua genialidade, sempre a serviço do novo.

Modos peculiares de cantar e dançar, atitudes inesperadas, respostas mal educadas, gargalhadas livres e lágrimas incontroláveis. Elis era assim.

Mas, ainda que faça parte da condição humana, a morte não rimava com Elis. Sua morte, na manhã do dia 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos de idade, chocou o país. Morte súbita, acidente, nada estava claro. A única coisa clara naquela manhã, era que o país amanheceu sob a nuvem negra da perda uma de suas estrelas de maior brilho. Uma estúpida overdose de cocaína calava a voz desse grande mito de nossa MPB.

Elis Regina completaria 70 anos neste 17 de março de 2015. Certamente estaria lançando novos compositores e viajando por repertórios atuais com a mesma categoria e bom gosto que o fez durante toda a sua carreira. Elis, no entanto, é inesquecível e sua voz está mais vida do que nunca, cantando cada dia mais e mais bonito.

Salve Elis Regina!

A FOTO ABAIXO É UMA MONTAGEM. TALVEZ FOSSE ESSA A APARÊNCIA DE ELIS NOS DIAS DE HOJE, AOS 70 ANOS


"Nossos ídolos 
Ainda são os mesmos 
E as aparências 
Não enganam não 
Você diz que depois deles 
Não apareceu mais ninguém"



0 comentários: