"Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele não pode mais cantar"
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele não pode mais cantar"
(Angelica - de Chico Buarque e Miltinho para Zuzu Angel)
Nasceu em Curvelo, MG, em 5 de junho de 1923, filha de Pedro Netto e Francisca
Gomes Netto. Mais tarde sua família se mudou para Belo Horizonte, onde fez o
curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginasial no Colégio
Sagrado Coração de Jesus.
Ousada, criativa, inovadora, anti-militarista, talentosa, corajosa, envolvente, charmosa e alegre. É essa a definição da personalidade da estilista Zuzu Angel.
Começou sua carreira como costureira e, mais tarde, tornou-se “designer”, transformando panos de colchão, fitas de gorgurão, rendas do norte, pedras preciosas, estampados de pássaros e papagaios, babados e zuartes em saias, chales e vestidos maravilhosos, criando uma moda brasileira capaz de encantar o mundo
O anjo era a logomarca de sua confecção. Seu princípio era a liberdade. Criava uma moda autêntica - a partir de suas raízes e origens de sua vida e emoções. A natureza brasileira estava presente em suas roupas, através das flores, pássaros e borboletas.
Figurinista reconhecida internacionalmente, era mãe do militante Stuart Angel Jones, desaparecido político, preso em 14 de maio de 1971 pelos agentes do CISA, onde foi torturado e assassinado.
O preso político Alex Polari de Alverga, escreveu da prisão – logo após a morte de Stuart – carta a Zuzu Angel, onde narrava as torturas sofridas por seu filho. Alex presenciou a tortuera à qual o filho de Zuzu fora submetido. Stuart foi arrastado por um Jeep pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no cano de descarga do veículo. Alex narra também o sofrimento agonizante do jovem que estava na cela ao lado – pedindo água e dizendo que estava ficando louco e que ia morrer e, pouco depois, seu corpo foi retirado da cela. Este depoimento de Alex consta do vídeo “Sônia Morta e Viva”, produzido e dirigido por Sérgio Waisman, em 1985.
Zuzu Angel incansavelmente denunciou as torturas, morte e ocultação do cadáver de Stuart, tanto no Brasil como no exterior. Em vários de seus desfiles no exterior denunciou a morte do filho para a imprensa estrangeira e a deputados norte-americanos, entregando em mãos uma carta a Henry Kissinger, na época Secretário de Estado do Governo norte-americano, visto que seu filho também tinha a cidadania americana.Sua atitude e a abrangência das denuncias, apesar da férrea censura, desnudavam o que a ditadura tentava esconder, os desaparecidos.
Zuzu passou, então a fazer - como ela mesma classificaria - “a primeira coleção de moda política da história”, usando estampas com silhuetas bélicas, pássaros engaiolados e balas de canhão disparadas contra anjos. O anjo tornou-se o símbolo de Tuti, o filho desaparecido - caracterizando suas coleções de moda: anjos amordaçados, meninos aprisionados, sol atrás das grades, jeeps e quépis.
Durante cinco anos, buscou reaver o corpo de Stuart, cuja morte e prisão jamais foram admitidos pelos órgãos de segurança. O atrevimento, a criatividade, a audácia e até mesmo o bom humor foram as armas que ela usou contra a ditadura.
Soube tirar proveito de sua fama, para envolver, a favor da sua causa, inúmeros clientes e amigos importantes: Joan Crawford, Kim Novak, Veruska, Liza Minelli, Jean Shrimpton, Margot Fontein, Henry Kissinger, Ted Kennedy, entre outros.
O acidente de automóvel em que veio a morrer foi bastante estranho, não ficando claro, na época, as circunstâncias dessa tragédia. Há testemunhas que afirmam que havia um Jeep do Exército, logo após o acidente, na saída do túnel Dois Irmãos.
Ela própria denunciou seu fim: ”Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.
Seu óbito, de n° 384, foi firmado pelo Dr. Higino de Carvalho Hércules, que confirma a versão policial de morte em acidente.
Uma semana antes do acidente que a vitimou fatalmente, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque, um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse.
Zuzu Angel foi covardemente morta pelos mesmos assassinos de seu filho, aos 49 anos de idade, em 14 de abril de 1976, às 3:00 horas, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (RJ). Zuzu foi sepultada pela família, em 15 de abril
de 1976, no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro.
Zuzu viveu, lutou e morreu em nome do mais nobre sentimento que um ser humando pode nutrir: o amor. Que a vida dessa grande mulher seja sempre lembrada como exemplo de garra e força e, que sua morte seja sempre um amargo retrato de um dos períodos mais negros da história de nosso país. Que o seu sangue derramado, e o de todos os outros mortos políticos sejam sempre uma mancha em nossa história. Ditadura, nunca mais!
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