"Do sol aos raios fúlgidos
Ao céu de puro anil
Erguendo o vulto atlético
Num gesto varonil
Da América do Sul
O filho mais gentil
Aqui se ostenta intrépido
O colossal Brasil".
João Monlevade é mesmo uma terra bastante esquisita. Qualquer pessoa agora recebe a nomeclatura de "Ativista Cultural". É algo que está em voga e torna- se símbolo de status e "poder cultural". O buraco, porém é bem mais embaixo, pois, essas pessoas nada tem de cultas. Na verdade chega a ser cômico a desinformação daqueles que assim se julgam ou que aceitam ser nomeados deta meneira.
Eu venho de uma família cuja arte corre nas veias. Sou bisneto de Maria Manoella Leite e Silva, a primeira Florista profissional de Rio Piracicaba. Meu bisavô, Thomás D`Aquino Silva era Ourives, e meu outro bisavô, José Baptista Leite, dono de uma fábrica de fogos de artifício. Sou neto de Marinho Maximiano Silva, o "Homem Dos Coloridos", um dos mais importantes Artistas Plásticos de nossa região, além de exímio músico. Meu avô Marinho, tocava bandolim e violão, tendo fundado, junto a seu irmão, o ourives Alípio Silva; seu primo e cunhado Gemi Leite e algúns outros amigos, a primeira Banda de Rio Piracicaba. Meu tio, Cláudio Antônio Silva, é músico profissional, tendo estudado em Conservatório e, minha mãe, Zulma Maria é uma das mais reconhecidas Artistas Plásticas de nossa cidade.
Eu, além de Tradutor e Intérprete e Professor, já atuei como ator e diretor em várias peças de teatro, fui vocalista da renomada banda Asas Noturnas e estou à frente da Plataforma 3 há algúns anos, tendo me apresentado nas principais casas da cidade, embora não me considere um legítimo cantor. Como dizia Raul Seixas, sou um ator que finje tão bem a ponto das pessoas acabarem acreditando que eu canto de verdade. Cresci dentro dos Interact e Rotaracts Clubes, passando posteriormente para o Rotary Clube de João Monlevade e atuando na organização de vários eventos sociais e culturais, tais como o Arraiá e o Baile do Hawaí. Nas horas vagas tenho como diversão restaurar móveis e objetos antigos. Sou pesquisador de MPB, tendo como principal foco Elis Regina e Clara Nunes, atuando, inclusive, como um dos administradores da página Deusa Dos Orixás, uma das mais importantes no resgate do legado artístico da cantora mineira. Mantenho o blog CK Linguas a mais de 2 anos no ar e, o Visão Geral a mais de 1 ano, resgatando a memória de grandes artistas, discutindo fatos atuais de nossa cidade e do país e, nem por isso me considero um "ativista cultural". Longe disso. Sou apenas um amante das artes, e nada mais que isso.
O ativismo cultural é algo que vai muito além. É algo muito mais complexo. O verdadeiro ativista cultural é o agente político que faz as coisas acontecerem no campo da cultura. É aquele que abre o espaço social para os efetivos agentes produtores de atos e fatos culturais. O campo de sua atuação ocorre tanto em área pública como nas organizações não governamentais. É ele quem normalmente apresenta o artista ao público em geral. A ótica do ativista cultural não é a de seu sucesso pessoal como artista ou criador. O legítimo ativista cultural é um fomentador do processo de caldeamento cultural. O seu trabalho deve ser sempre remunerado, quando as suas ações produzirem lucro para as partes envolvidas. O lucro pessoal não descaracteriza ou proscreve o ativista.
Posso citar como verdadeiros ativistas culturais de João Monlevade, apenas para exemplificar, o cantor Rômulo Ras, o jornalista Marcelo Melo e, o empresário e laboratorista Omar Evaristo Alves. Rômulo vive de sua arte, dos shows e eventos culturais de extrema qualidade e bom gosto por ele promividos. Marcelo Melo, faz um brilhante trabalho do resgate histórico e cultural de João Monlevade e, através de suas pesquisas, tira seu sustento e mantém seu jornal em circulação a mais de uma década. Já Omar, meu pai, é símbolo de pioneirismo. Foi dono das primeiras Boates da cidade, o Mocosom e a Saramandáia, chegando a receber jogadores de futebol e um show do cantor Jair Rodrigues, nos anos 70. Esteve à frente do bar do Ideal Clube durante muitos anos e, em 1990, inaugurou a fase de ouro dos shows de samba, entitulados "Sambões", e das serestas em seu Bar Do Omar, em frente à Matriz de São José Operário. Passaram por lá - ao longo dos 10 anos em que esteve administrando o local, grandes nosmes do cenário musical monlevadense, tais como Amigos Do Pagode, Afilhados Do Sereno, Neide Roberto, Nedino, Nedina, Geraldo Di Noite, Nely, Romulo Ras, Carla Bruzi, Eustáquio Ambrósio, Laércio, e tantos outros. Realizou ali um dos primeiros Carnaváis de rua da cidade, atraíndo milhares de pessoas.
O que mais caracteriza as ações do ativismo cultural é a conjugação permanente entre os vetores Cultura e Educação. Ativista Cultural, portanto, é algo bastante distinto daquilo que vem sendo pregado e apresentado por um pequeno e desinformado grupo aqui em João Monlevade. Do jeito que a coisa vai, não demora muito, apresentarão também o popular mendigo "Pulguinha" ou o folclórico "Manáia" como sendo "ativistas culturais". Há que se repensar e refletir sobre esse peseudo ativismo cultural que vem sendo proliferado em nossa terra, afim de se evitar equivocos como os que vem se tornando corriqueiros por aqui.
"Ativista Cultural". Coisas de João Monlevade... e tenho dito!
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