Carta de Clara Nunes psicografada por Chico Xavier

A carta abaixo foi psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier em 1984. A mensagem foi entregue a Maria Gonçalves, a irmã mais velha de Clara Nunes, que a criou após a morte prematura de seus pais.
“Querida Maria, eu pressentia que o encontro através de notícias seria primeiramente com você. Somente você teria suficiente disposição para viajar de Caetanópolis até aqui , no objetivo de atingir o nosso intercâmbio.
Descrever-lhe o que se passou comigo é impossível agora. Aquela anestesia suave que me fazia sorrir se transformou numa outra espécie de repouso que me fazia dormir.
Sonhava com vocês todos e me via de regresso à infância. Cantava. Era uma alegria que me situava num mundo fantástico. Melodias e cores, lembranças e vozes se mesclavam e eu me perdia naquele êxtase desconhecido. Não cuidava de mim. Lembrava-me dos que ficavam, mas ainda não sabia se a mudança seria definitiva.
Conte ao nosso querido Paulo a minha experiência. Tantos dias no descanso, ignorando o que vinha a ser tudo aquilo que se apresentava à imaginação por fantasia que desconhecia como deslindar.
Peço a você solicitar ao Paulo me perdoe se lhes transmito as presentes notícias com a fidelidade possível.
Acordei num barco engalanado de flores, seguida de outras embarcações nas quais muitos irmãos entoavam hinos que me eram estranhos, hinos em que o amor por Iemanjá era a tônica de todas as palavras. Os amigos que me seguiam falavam de libertação e vitória.
Muito pouco a pouco, me conscientizei e passei, da euforia ao pranto de saudade, porque a memória despertava para a vida na retaguarda e o nosso Paulo se fazia o centro de minhas recordações. Queria-o ali naquela abordagem maravilhosa, pois os barcos se abeiravam de certa praia encantadoramente enfeitada de verde nas plantas bravas que a guarneciam.
Quando o barco que me conduzia ancorou suavemente, uma entidade de grande porte se dirigiu à mim com paternal bondade e me convidou a pisar na terra firme. Ali estavam o meu pai Manoel e a nossa mãezinha Amélia. Os abraços que nos assinalavam as lágrimas de alegria pareciam sem fim. Era muita saudade acumulada no coração.
Ali, passei ao convívio de meus pais e os meus guardiões retornavam ao mar alto. Retomei a nossa vida natural e, em companhia de meu pai Manoel, pude rever você e os irmãos todos, comovendo-me ao abraçar a nossa Valdemira que me pareceu um anjo preso ao corpo.
Querida irmã, não disponho das palavras exatas que me correspondam às emoções. Peço a você reconfortar o nosso Paulo e dizer-lhe que não perdi o sonho de meu filhinho que nascesse na terra de nossa união e de nosso amor…
O futuro é luz de Deus. Quem sabe virá para nós uma vida renovada e diferente, na qual possamos realmente pertencer-nos para as minhas lindas realizações?
Você diga ao meu poeta e beletrista querido, que estou contente por vê-lo fortalecido e resistente, exceção feita aos copinhos que ele conhece e que estou vendo agora um tanto aumentados.
Desejo que ele saiba que o meu amor pelo esposo e noivo permanente, que ele continua sendo para mim, está brilhando em meu coração, em meu coração que continua cantando fora do outro coração que me prendia.
A cigarra, por vezes, canta com tanta persistência em louvor à Deus e à natureza que se perde nas cordas que lhe coordenam a cantiga, caindo ao chão desencantada.
O meu coração da vida física não suportou a extensão das melodias que me faziam viver e, uma simples renovação para tratamento justo, me fez repousar nas maravilhas diferentes a que fui conduzida.
Espero que o nosso Paulo consiga ouvir-me nestas letras. Agradeço a ele as atitudes dignas com que me acompanhou até o fim do corpo, tanto quanto agradeço a você e às nossas irmãs e irmãos o respeito com que me honraram a memória, abstendo-se de reclamações indébitas junto aos médicos humanitários que se dispuseram a servir-nos.
Muitas saudades e lembranças a todos os nossos e pra você um beijo fraternal com muitas saudades de sua, Clara.”

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